quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

No ano eleitoral, Dilma Bolada pode deixar a política

Foto: Agência do Planalto

Dilma Bolada, a personagem que caiu nas graças dos internautas e até da presidente Dilma Rousseff, pode mudar de cara em 2014. O criador do perfil no Twitter e no Facebook, Jeferson Monteiro, está repensando o futuro da sátira da presidente nas redes sociais. Em ano de eleição, Dilma Bolada pode se distanciar da política e tratar apenas de variedades. A última opção do estudante de publicidade é tirar a personagem do ar.

A preocupação de Jeferson não é com os entraves legais que pautam o período de campanha eleitoral. O que tem feito o estudante rever a continuidade dos posts, diz, é sua “responsabilidade como cidadão”. “Muitos sabem do que se trata, no entanto os seguidores somam mais de um milhão de pessoas e é uma personagem ligada diretamente à Dilma. E nós entramos agora em ano eleitoral”, relata. Segundo ele, a personagem foi amadurecendo cada vez mais com relação a variedades, tomando maior distância da questão política”, disse.

Declaradamente um simpatizante da presidente, Jeferson sabe da influência que tem ao manter um perfil de Dilma em ano de eleição e sente o peso da responsabilidade. “Eu gosto da Dilma, isso é um ponto. Agora, tenho que avaliar de uma forma mais ampla e clara para saber se e como vale a pena continuar”, disse. “Tem uma série de questões pessoais”, completou o estudante, que faz questão de informar que não é filiado ao PT, apenas nutre admiração pela presidente Dilma e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O perfil Dilma Bolada surgiu no Twitter em 2010. A partir de 2011, passou a ser atualizado com mais frequência contando com humor a rotina da presidente Dilma Rousseff. Em 2012 e em 2013, o perfil ganhou prêmios de internet, como o Shorty Awards. No ano passado, Jeferson foi recebido no Palácio do Planalto por Dilma Rousseff, no momento em que a presidente reativou sua conta no Twitter.

O desgaste pessoal também conta na avaliação do estudante, já que Jeferson alimenta os perfis diariamente sozinho. A decisão sobre o futuro da personagem, garante, será tomada só por ele, nos próximos dias. Os únicos a palpitar na decisão são “um amigo ou outro”. Ainda que a opção seja manter as publicações com o mesmo perfil adotado até agora, Jeferson deve buscar alguma inovação e os internautas devem saber da escolha pelas redes sociais. Por enquanto, os prós e contras estão “na balança”.

Se ele cansou de fazer a personagem? Não. “Estou até escrevendo aqui agora um texto bem legal”, responde animado. “É sempre em cima de uma demanda nova, de alguma coisa bem atual. É prazeroso fazer e ver as pessoas gostarem”, disse.

Jurídico
Na visão do advogado Alberto Rollo, presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB de São Paulo, a página de Dilma Bolada é um dos exemplos que pode gerar processos e até pedidos de retirada do ar. “A Dilma Bolada beneficia a presidente e ridiculariza os adversários. Não só pode como deve ser retirado do ar”, opina.

Já o advogado e professor de direito eleitoral na PUC-SP, Carlos Gonçalves Jr, discorda e acredita que a Justiça ainda não tem quantidade suficiente de decisões para uma visão conclusiva no caso específico da Dilma Bolada. “O humor é uma forma de manifestação social. Qualquer intervenção da Justiça eleitoral no caso da Dilma Bolada seria inconstitucional por violar o princípio da liberdade de expressão”, afirmou. “Não acho que ela (a Justiça) deva interceder."

O presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB de Pernambuco e advogado Walber de Moura Agra lembra que na eleição passada o TSE permitiu a sátira de programas humorísticos com candidatos. “Humor pode. Não pode permitir ridicularizações e ataques contra a honra e moral dos candidatos”, explicou. Segundo ele, esses casos são passíveis de multa, direito de resposta e até condenação penal

Planos bolados
Jeferson dedicou 2013 a eventos, palestras e demandas de projetos que surgiram por conta do Dilma Bolada. A procura, no entanto, tem diminuído. “Este vai ser um ano de transição”, diz o estudante que mora no Rio de Janeiro e pensa em eventualmente procurar emprego em uma agência de publicidade. “Além do networking bacana, a Dilma Bolada trouxe trabalhos legais. De repente, mudando a questão da temática, talvez até surjam mais oportunidades.”

A ideia de transformar a Dilma Bolada em livro, com a personagem narrando os quatro anos de gestão da petista no governo federal, também existe. “É algo que penso há um tempo. Mas para isso preciso de tempo”, conta.>>Ele não descarta, contudo, trabalhar durante a campanha eleitoral para candidatos à presidência, independentemente do partido. Os convites, explica, seriam julgados pelo critério “exclusivamente profissional”. “Não descarto hipótese de prestar serviço na rede social para ninguém.” Jeferson acredita, contudo, que a divulgação por meio de personagens já está esgotada. “Isso não funciona mais, a Dilma Bolada é uma grande exceção.”

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